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A arte do tricô por Lisi Margaux

Foi depois dos 50 anos que a carreira de Lisiane Busmann Ferreira se redefiniu quando passou a se dedicar ao tricô com uma nova perspectiva. Envolvida há muito tempo na arte de tricotar, ela decidiu fazer desta prática a sua atividade principal. 

A paixão pela trama, resultado do trabalho de duas agulhas e um fio, começou quando criança com a mãe, tias e as avós, fazendo roupas de boneca. A atividade foi aperfeiçoada pelas aulas de Artes Femininas no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Curitiba, e aos 13 anos tricotou a sua primeira blusa.

O novo mundo do tricô começou quando decidiu promover o chamado Dia Mundial de Tricotar em Público. O evento comum na Europa, mais ainda nos Estados Unidos, aconteceu num Shopping da cidade. Lisi conta que ninguém acreditava que uma desconhecida pudesse realizar o evento. Ela surpreendeu a todos e a si mesma quando conseguiu reunir em torno de 150 pessoas. A partir de então, com a divulgação nas redes sociais, foi procurada por blogueiras, deu entrevista para a revista do shopping e viu sua trajetória se transformar completamente.

 


 

 

A dona da página do Facebook Lisi Margaux Tricots, uma homenagem a sua mãe Liane Margot, revela que sua vida mudou há cerca de 6 anos. “Em 2003, meu marido comprou duas franquias e por 13 anos trabalhei com ele. Quando vendemos as empresas eu fiquei com o tempo ocioso” diz. Foi quando, já com os filhos crescidos, procurou outras ocupações como participar de grupos de bordado, academia, grupos de literatura e decidiu por dar aulas de tricô. A princípio ensinava em uma loja de bordados e patchwork. 

Não menos importante para a carreira de Lisiane foi quando passou de assistente do Congresso Brasileiro de Tricô para palestrante e hoje atua na organização dos eventos. Já deu aulas no Encontro Gaúcho e fez trabalhos como “tester” para uma tricoteira e designer italiana. A partir daí Lisi entra num mundo do tricô pouco conhecido por muitos. Ela explica: “Quando uma receita é criada, para poder lançar em revistas, é preciso que várias pessoas a executem sem a  orientação de quem criou para ver se a receita funciona”. Esse é o papel do “tester” aprovar receitas de tricô.

Outro assunto desconhecido de uma grande parte do público é o alto custo de algumas agulhas de tricô. Recentemente, diz ela: “para confeccionar uma peça tive que comprar um par no valor de 150 reais”. Para minha admiração ela revela que existe jogo de agulha que custa até 1000 mil reais. E confessa: “Isso é algo que no começo eu não conhecia. Sabia que existia, mas não conhecia”. É realmente outra realidade, outro padrão de trabalho.

Encantada pelo que faz, afirma: “Há tricôs de todos os níveis, a gente tem que tricotar para ser feliz. Eu ajudo qualquer pessoa a aprender a partir daquilo que ela está pronta para fazer”. Se é o tricô simples que ela sabe fazer, trabalha-se o tricô simples”, e confessa: “é do ponto meia o que eu mais gosto de tecer”. Para garantir um ponto perfeito ela recomenda usar um fio que tenha textura e cores para disfarçar as imperfeições. 

Mesmo disposta a ensinar qualquer pessoa, ela diz que procura “atender as que trabalham da maneira como eu gosto de trabalhar, que estudem a técnica para desenvolver a peça, alunas que querem evoluir”. Na página do Facebook criou o projeto TJ – Tricotar Juntos – que funciona da seguinte forma: é postado um modelo e oferecida a opção de formar um grupo que queira tecer aquela peça. É cobrado um valor único de inscrição e “neste caso, dou todo o apoio necessário para desenvolver a peça, da escolha dos fios à tricotagem”, explica.

 

 

Outra opção que há, continua: “é quando uma aluna traz um modelo importado com receita em inglês. Nesse caso faço a tradução, cobro por página traduzida e dou as instruções para a confecção”. Como segunda opção: “Se ela não quiser exclusividade e desejar baratear o custo, também é possível lançar no formato Tricotar Juntos”.

Lisi comenta sobre a dificuldade de encontrar literatura de tricô. Em 2019 quando deu aulas no Encontro Gaúcho precisou comprar livros importados e declara: “o que recebo por aula não paga o elevado custo desse material”. Quando viaja para visitar o filho, que mora na Inglaterra, aproveita e adquire material, estuda e faz cursos.

Quando procurada para tecer uma peça ela só aceita quando a pessoa define o que deseja. Se for para desenvolver o designer, é cobrado este trabalho acrescido do material que a cliente escolher. Essas encomendas “são de valores que variam de 100 a 600 reais, dependendo do fio, nacional ou importado, que  vai ser usado”. Por esse motivo ela não faz peças para lojas porque não cobrem o custo e a hora trabalhada. “O peço final não fica vendável” afirma. Mas, já fez peças exclusivas para capa de catálogo de uma boutique do Rio de Janeiro e outra usada por uma modelo em propaganda de televisão. 

Ainda sobre custo e qualidade, conta que neste inverno tricotou uma echarpe, para o filho, em fio Mohair com seda que ele mesmo comprou na Suíça. “Nesta echarpe foram usados dois novelos pelos quais pagou 60 libras” e completa: “No Brasil não temos fio dessa qualidade, nem frio que justifique o uso”. Porém destaca o da marca Da Fazenda, uma empresa do Rio Grande do Sul, que fabrica a Lã Merino com tingimento natural. 

Com este fio Lisi desenvolveu um xale encomendado pela designer italiana Paola Albergamo, de Roma. Instagram @PaolaKnitz. Para este trabalho, conta que participou de uma seleção, junto com outras 700 profissionais, de vários países, e foi escolhida entre as 10 primeiras. A empresa Da Fazenda patrocinou o fio e Lisi a manufatura da peça, como uma parceria. A publicação no site da designer, com milhares de seguidores, trouxe visibilidade para ambos  e acrescenta: “São essas coisas diferentes que eu gosto de fazer”.

 

 

 

A transição para as aulas online foi difícil. “Não tenho habilidade com essa tecnologia. Uso internet somente para estudar e pesquisar. Contei com a ajuda do filho, do marido e das próprias alunas”, e conclui: “mas parece que aula não rende tanto quanto a presencial. Tenho que ficar mudando a posição da câmera, para que a aluna veja o que estou fazendo e então reproduzir”. No resultado final, pensa “que a aluna não está aprendendo tudo o que eu gostaria ou o quanto que eu queria. Embora elas não achem isso”.

Em contrapartida reconhece as possibilidades que esta nova realidade lhe deu e o alcance que tem. “Isto me permitiu ter alunas dos mais distantes lugares.  Dos Estados Unidos, do Piauí, do Rio Grande do Sul, do interior de São Paulo”, relata. Antes pesquisava só para as alunas que iam na minha casa, hoje trabalha muito mais do que quando eram aulas presenciais. “Quanto ao ganho, o fato de trabalhar mais não reflete aumento de remuneração” confessou.

Sobre mais interação, comenta que “acabamos de montar um grupo de estudos com a participação de uma colega do Rio Grande do Sul, duas de Curitiba, uma de São Paulo, do Rio de Janeiro e uma dos Estado Unidos”, comenta. No Brasil, há cerca de 30 professoras deste nível. A internet possibilitou maior contato entre essas profissionais.

Foi um ano de mudanças, descobertas e alterações de planos. Lisiane revela que tinha uma viagem programada pra levar um grupo de alunas ao Great London Yarn Crawl. Explica que “assim como existe o Pub Crawl, quando as pessoas vão de bar em bar para beber, no Yarn Crawl você paga ingresso e as lojas fornecem receitas exclusivas e promoção na venda de fios”. Muitos outros eventos foram cancelados, mas com otimismo ela comenta: “tudo voltará ao normal e muitas viagens hão de acontecer.

Mesmo com toda a prática e conhecimento que tem na arte de tricotar Lisiane diz que ainda há muito o que aprender. Alcançou reconhecimento entre os grandes profissionais deste ramo, mas não perdeu a natureza simples, elegante, delicada e gentil de ser.

 

 

 



 

Legenda de foto para acesso do deficiente visual. #pracegover. 1- Foto montagem de Lisiane em frente algumas peças por ela confeccionada e outra envolta em um xale cinza confeccionado por ela. No card de fundo branco predominam as cores nude do rosa ao cinza. Na parte superior esta escrito em letras douradas o título “A arte do tricô por Lisi Margaux”. Na parte inferior o nome do blog SuperLinda.Arte de Leticia Rieper.

2 – Foto montagem com 3 imagens do Encontro Mundial de Tricotar em Público. Em primeiro plano está Lisi ao lado banner de divulgação do Encontro. Em tamanhos menores, Lisi está ao lado das participantes.

3 – Foto montagem de dois modelos confeccionados pelas alunas de Lisi no projeto TJ. A primeira em cores branco, rosa e cinza, a segunda preto, laranja, branco e rosa. Os modelos são tipo cardigan até a altura do joelho.

4 – Foto do Instagram de Paola Albergamo expondo o xale confeccionado por Lisi. Paola usa calça comprida preta e blusa vermelha. No fundo um painel  de figuras geométricas em tons de verde musgo, branco acizentado e amarelo nude. O xale é de fundo tom terra com detalhes ovais na  cor vermelha com detalhes brancos ao redor no formato oval.

5 – Foto do banner do Encontro Gaúcho com Lisi e outras 7 professoras do evento. 

6 – Foto aproximada das mãos de Lisi tricotando uma peça com fio vermelho. 

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