“Em Joinville, uma loja que literalmente podemos chamar de uma loja musical, do aparelho de som aos discos de cd e vinil sobrevive apesar do mundo digital. Há 47 anos no mercado, Alexandre Wojtech e Marli Silva Avancini nos falam dessa história que se confunde com a cultura musical do joinvilense. Estamos nos referindo a Discolândia, aquela alí na rua XV que todos conhecem”.
Esta foi a abertura do programa Lead Cultural transmitido pela Rádio Udesc FM em 06/12/2016 feita pelos alunos David Reis e Raquel Ramos, da 4a. fase de jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, com orientação do professor de radiojornalismo Ciro Götz.
Impossível dizer em 3 minutos de entrevista, tempo máximo para uma reportagem de rádio, tudo o que Marli falou sobre os desdobramentos do comércio de rua, a queda das vendas com a concorrência das megas lojas da internet e o advento dos shopping centers. Junto com Alexandre, seu marido, eles permanecem com a Discolândia aberta e se mantém sempre em contato com seus fiéis clientes, até os dias de hoje.
Alexandre faz uma relação entre duas fases da música afirmando que “o fim do vinil significou o começo da pirataria, nascido com a chegada do cd”. Até então não haviam réplicas e cópias que não fossem autorizadas, completou ele.
Entrar no corredor de acesso à loja é fazer uma viagem no tempo da música, desde os móveis, cartazes na parede, discos de vinil, até os cds dispostos nos balcões horizontais. Todos esses elementos trazem a memória dos tempos em que ter música em casa significava, ansiosamente, aguardar os lançamentos anuais, ir na loja para comprar a peça física e colocar para tocar no aparelho de som que tínhamos.
Alexandre e Marli têm histórias emocionantes por uma vida inteira dedicada à música. São profundos conhecedores de nomes de artistas, compositores, ritmos, bandas, nacionais e importados, instrumentos musicais, aparelhos de som. Dos artistas que conheceu pessoalmente, Marli destaca a visita do maestro Ray Conniff, à Discolância, quando esteve em Joinville.
Sobre este fato, pergunto por fotos do encontro e ela com a mão sobre o peito responde: “Tenho todas as lembranças guardadas no coração, porque naquele tempo não havia celular para tirar fotografia”. A comerciante recorda, ainda que “ele entrou, dispensou os seguranças e ficamos mais de uma hora aqui dentro da loja conversando”.
Mas este não foi o único famoso que a proprietária da Discolândia conheceu. Na sua função, vender bem é sempre um objetivo, e este objetivo tornou-se ainda maior quando a fábrica da EMI, a Eletric and Musical Industries, ofereceu a aquele que mais vendesse seus produtos, o prêmio de conhecer a fábrica de discos em São Bernardo do Campo e assistir ao show da banda Queem no Morumbi. “Isso aconteceu em janeiro de 1981” relata ela com o entusiasmo de vencedora e conta com orgulho que conheceu e conversou com Fred Mercury. Quanto a cantores e bandas nacionais, Marli diz: “são raros os que não conheci pessoalmente.
O casal vive e traz a cultura dentro si. Ele, a da Alemanha, seu país de nascimento e ela, a do seu pai, o escultor Mario Avancini. Ambos preservam, aquilo que consideram o que de mais importante a sociedade precisa ter: “a história, o conhecimento e principalmente o amor por Joinville”.