Descrição da foto para acessibilidade de deficiente visual: Copo com vinho tinto servido para degustação.
Não há exagero algum em dizer que Mendoza vive embriagada pela fama do vinho, tamanha é a quantidade de vinícolas que possui. Da mesma forma, não é exagero afirmar que o tema está sempre envolvido em frases que despertam a imaginação de cada um. No discurso dessas palavras, há um amor pelo ato de saborear a bebida, acompanhado de tantos outros desejos.
A milenar bebida, degustada nas vinícolas e oferecida por pessoas habilidosas na arte de vendê-la, faz da apresentação uma prática rica em história e tradições. Tomar um vinho, esse líquido encantador, basta levá-lo à boca para sentir o efeito aveludado, à base de taninos doces e agradáveis.
É essa a sensação que envolve quem visita a cidade conhecida como a “Adega da Argentina”. A região é responsável por 80% da produção interna de vinho, o que lhe confere o título de quinto maior produtor mundial e o principal na produção de uvas Malbec. Essa variedade de uvas vermelhas encontra na capital da província de Mendoza o solo árido e as condições agroclimáticas ideais para seu cultivo.
Durante o passeio por algumas das 100 vinícolas abertas à visitação, são dadas explicações sobre o cultivo da planta, o processo de engarrafamento e o consumo final. Para os apreciadores da bebida, toda a cultura que envolve o assunto é bem-vinda.
Detalhes como o fato de que o Malbec, em sua juventude, apresenta uma cor vermelho-escura com tons violeta e aromas de frutas vermelhas, como ameixa, cereja e framboesa, com notas de baunilha, chocolate e café, ficam como conhecimento adquirido. Conhecimento que, para os consumidores leigos, pode se dissolver ao primeiro gole, mas o sabor, jamais.
Para os amantes do vinho, interessa sentir o prazer seco ou doce da enorme variedade, beleza e sedução que envolve essa cultura. A Bodega Domiciano sensibiliza os visitantes ao citar a particularidade de que sua produção ocorre a partir da “colheita das uvas feita apenas após o pôr do sol, nas noites frias de abril”.
Durante a visita guiada, cheia de charme e capricho, as primeiras palavras são ditas com ares de inocência: naquela adega “produzem vinhos para serem bons”.
Porém, é na característica de uma bodega do “tipo boutique” que ela se destaca. Esse é um conceito moderno que qualifica um local com algo de especial. Neste caso, trata-se de um negócio familiar e de pequena produção, com qualidade e medalhas de ouro e prata na Europa. O antigo prédio, construído há 110 anos e aberto para receber visitantes, a vinícola Vino El Cerno, dá as boas-vindas com a estimulante frase “Saber beber é saber vivir”.
Em se tratando de vinho, também nada é por acaso. A Vino El Cerno traz o cerne da tradicional bebida dos deuses na origem do seu nome. Cerno significa o coração de madeiras duras, como o carvalho, onde ocorre o envelhecimento dos vinhos varietais produzidos nessa vinícola.
Entende-se por vinho varietal aquele elaborado a partir de uma única variedade de uva ou com alta predominância de determinada uva.
Nesta pequena vinícola familiar, os vinhos são produzidos com a mesma tecnologia usada pelos imigrantes pioneiros. Tintos, brancos ou espumantes, todos são totalmente naturais, sem adição de elementos químicos.
A recepção na Vinícola Florio não é diferente. A frase estampada junto aos objetos que contam a história dessa tradição, “El vino no emborracha, te hace mágico!”, é inspiradora.
Desde 1912, Antonio Florio decidiu dar continuidade à tradição familiar na arte do bom vinho, na cidade de Maipú, província de Mendoza, um lugar com condições climáticas excepcionais para o desenvolvimento das vinhas.
Aqui, a especialidade da casa é o vinho de sobremesa, como os tipos Marsala, Porto e Sherry, além dos espumantes e varietais, como Malbec e Chardonnay.
Ao final, tenho a nítida sensação de que a escolha dessa vinícola como a última visita do dia é proposital. Eu diria que, a essa altura, os delicados, adocicados e alcoólicos extratos de uva “não embriagam, mas te fazem mui mágico”.