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Marianna, mais do que uma bela mullher

Sábado fui com a Heloísa, uma amiga de infância, até a  praia visitar uma outra colega de nome Cynthia. Quando cheguei essa nos apresentou à uma senhora que estava sentada no sofá, dizendo: “esta é a Marianna, uma amiga de minha mãe”. A referência “amiga da minha mãe” me remeteu de imediato à uma senhora mais velha do que nós todas ali, no mínimo, 20 anos. Como de fato, era.
 
Não é a primeira vez, que Cynthia, 59 anos,  me surpreende em ter, entre suas amigas, pessoas mais velhas. A primeira, que conheci foi Tereza, 91 anos, com um comportamento tal qual o nosso. Independente e, de acordo com os termos atuais, de envelhecimento ativo. Assim, em meio a tantos pensamentos, conheci Marianna, de 83 anos. 
 
Neste primeiro momento, me dirigi à ela e disse: “prazer em conhecê-la”. Na sequencia passei a chamá-la  de você, como comumente faço. Considero um tratamento cordial e gentil, mais do que senhora, a não ser numa situação formal. Diferentemente do que a maioria das pessoas pensam, senhoras e senhores gostam do tratamento você.
 
Os fatos aqui descritos, mostram que eu não estava errada em enquadrá-la nos moldes da nova terceira idade. Ao entrar no quarto onde eu iria dormir, Marianna se adianta com visível agilidade e retira de cima da cama a sua mala para levar ao outro cômodo. Quando a vi levantar sua própria bagagem, tive o primeiro insight de que na minha frente havia uma mulher com algo de especial.
 
Aberto o espaço deixado por Mariana, acomodei a pequena valise, com as minhas roupas necessárias para um único dia, em que permaneceria ali, e fui para a varanda. Lá, já estavam Heloísa e a amiga, dona do apartamento que nos recebia.
 
Não demorou e Mariana juntou-se a nós participando ativamente da conversa. Logo percebi que aquela mulher de cabelos totalmente brancos, mas com o corte perfeito e moderno, magra de corpo longilíneo, apesar de não estar em sua casa, assim se sentia e parecia muito à vontade. 
 
Além disso, ela mostrou que fugia do protótipo tradicional de uma senhora de 83 anos pela conversa que fluía, com desembaraço, e do assunto que nós três conversávamos. Não houve necessidade de falar sobre algo que ela pudesse participar.
 
Em seguida, ao abrir o primeiro espumante, sem consultar se desejava tomar a bebida, Cynthia entregou e ela prontamente aceitou a taça. Da mesma forma,  a anfitriã ofereceu a todas nós, ali reunidas, para o happy hour se que iniciava. 

Falante, Mariana comentou que não gosta de cerveja. “Somente espumante, vinho e caipirinha”, disse. E eu, sentindo a afinidade que se aflorava com essa pessoa, estiquei a mão com a palma aberta e lhe disse: “toca aqui”.  Uma linguagem gestual e atual, a qual ela correspondeu de imediato.
 
Este foi o primeiro contato que tive, e deixo aqui em público, o registro do prazer que foi conhecer Marianna Walter, empresária do ramo hoteleiro, viúva, 2 filhos, 4 netos, 4 bisnetos, residente em Joinville. 
 
A conversa continuou animada durante horas seguidas, sentadas as quatro, agora amigas, no frescor da brisa que vinha do mar. Me identifiquei com ela em muitas outras coisas, não só no prazer da conversa com um copo na mão, mas também em não saber cozinhar. 
 
“Não saber cozinhar” é motivo de orgulho? Não. Mas, o fato é que nós duas fazemos parte do rol de mulheres que não sabem cozinhar, e, mais, que não gostam de cozinhar. Como donas de casa, as coincidências não terminaram aí. Porém, deixo em suspense os detalhes. Só sei que “enquanto donas de casa”, pouco nos determinamos, e damos graças que temos as nossas ajudantes que nos auxiliam há mais de 20 anos. A dela, há mais 40 anos.
 
Já era noite, quando cansadas de ficar sentadas na varanda, decidimos por dar uma volta no calçadão da praia. Ninguém perguntou se Marianna queria ir, ela levantou e disse: “Vamos”. E cada uma de nós foi ao quarto para um rápido preparativo antes da caminhada, de uns 5 km, avisado por Cynthia, antecipadamente.
 
Ao circular pelo corredor, enxerguei pela fresta da porta entreaberta, Marianna, que antes usava um vestido largo e fresco, próprio para o calor escaldante do verão, agora vestida uma calça comprida, camiseta e em sorrateiro flagrante a vi passando rímel nos cílios. Mais vez, pensei: “Essa mulher não é normal! E folgo em dizer “não é mesmo”. Ela está muito além do seu tempo, da sua idade. 

Enfim, saímos pela orla revitalizada da praia de Piçarras, de conceito azul no controle de água boa para banho. Como é comum no verão, todas as casas à beira mar pareciam vivas com as cortinas abertas e brilhavam com as luzes acesas. Veranistas de anos, frequentadoras de muitos verões, as duas, Marianna e Cynthia iam relatando, um a um, quem eram os proprietários das casas por onde passávamos.

Dessa forma, íamos ouvindo histórias e relembrando passagens e personagens de Joinville, que direta ou indiretamente, por fatos ou lembranças, estão ligados as nossas vidas. Como quem desfila no calçadão, nos vimos em frente a casa dos Hansen, a dos Doubrawa, a dos Furlan, a dos Welter, e enquanto as duas faziam seus relatos, eu respondia: esse não sei quem é,  ou desse eu lembro.
 
Ao voltar, mais de uma hora depois, cada uma foi para o quarto dormir, não sem antes deixar combinado de que no dia seguinte, depois do café da manhã, o programa era descer para a praia. E ao acordar, lá já estava Marianna sentada na sala vestida num maiô escuro, uma saída de praia estampada de fundo preto com flores vermelhas e brincos na orelha combinando com a roupa, na maior elegância. 

Na saída para a praia ela carregou sua própria cadeira e o guarda sol que usaria. Nessa situação, o pensamento que me ocorreu, foi o de que Cynthia a trata como um pessoa capaz de fazer sozinha as sua atividades. Quando a vi desempenhando a tarefa sem dificuldade, tratei de agir da mesma forma, sem oferecer ajuda. É bem possível que seja isto que a faz tão jovem e auto suficiente.
 
A única coisa que não vi Marianna fazer, a exemplo de nós, foi se expor ao sol. Estava protegida pela viseira, sob a sombrinha de cor azul a realçar ainda mais o azul de seus olhos, e com a saída de praia sobre os ombros. Novamente não dispensou o espumante, comeu pastel de camarão e principalmente, participou mais uma vez de toda a conversa. 
 
Uma conversa, sobre pessoas conhecidas, desconhecidas, questões da prefeitura do município, das quais Cynthia é muito envolvida, futilidades, e homossexualidade. De maneira natural como é nos dias de hoje, um casal gay passeando pela praia, não passou despercebido pela bela mulher.

Se faltava acontecer mais alguma coisa para que eu percebesse a evolução desta pessoa, isto veio nas suas palavras: “Lembro que minha mãe quando via um casal passar de braço dado, dizia que eles deviam estar noivos, por andarem de braços entrelaçados”. Foi o comentário que Marianna fez sem demonstrar qualquer incompreensão sobre a realidade em que vivemos e sem fazer nenhuma observação de desagrado ao mundo das relações entre pessoas do mesmo sexo.

Marianna, simplesmente fantástica.
 
Marianna com a taça de espumante em uma mão e na outra o pastel de camarão.
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