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NO KM 110 da TRANSAMAZÔNICA TUDO PODE ACONTECER

Considerado o ponto crítico dessa rodovia, o KM 110 da Transamazônica, no Pará, próximo 40 km “do” Rurópolis, como falam aqui, é uma referência.
Por ser a mais íngreme é tida como a pior das subidas neste percurso, muitos caminhões já ficaram ali no meio do caminho.
Há quem diga que subir o 110 é a prova para saber se quem está na direção é um caminhoneiro ou um motorista de caminhão. E se você não sabe a diferença entre um e outro, só sei dizer que “quem é caminhoneiro não fica parado na subida do 110”.
 
                                
 
 
Vista geral da parte dos fundos da lanchonete onde sentamos para comer, com direito, se quiser, de se esticar nas redes.
Foi bem neste ponto que Dona Cota, vinda de Imperatriz (MA) se instalou há 38 anos. Com os constantes pernoites forçados na estrada, ela começou a vender lanches aos caminhoneiros encalhados e para os outros tantos que paravam para auxiliar seus companheiros. 
Com o passar do tempo, com o aumento do movimento da estrada e por sugestão deles, Dona Cota passou a servir refeições completas.
Seu comércio cresceu e ficou muito conhecido. Ela fala disso com orgulho e diz, apontando, que até os engenheiros da empresa de pavimentação da estrada param ali para almoçar.
 
 
                                 
O primeiro contato do #superlinda naquele local foi com a Cátia, neta de Dona Cota. Estudante do 9ºano escolar, 15 anos, simpática e sorridente deixando à mostra o aparelho ortodôntico que usa. Ela me contou que não gosta de matemática. Não compreende o porquê “de tantas contas tão grandes que gastam até uma folha de caderno para chegar a um resultado de zero”.  Me disse também que ali ainda não tem Internet “mas vão colocar logo”, que o telefone é um celular rural e funciona muito bem.
No balcão de atendimento à mercê de qualquer cliente mais inconveniente ela se impõe como gente grande e trata à todos por igual.
 

     
 
      
Para o almoço, Selma prepara peixe frito, carne de porco cozida e depois frita, cozidão (carne de panela com batata), arroz, baião de dois, três tipos de farofa, feijão e salada. 
_Ninguém resiste!
Quando tudo está pronto, Selma serve o almoço num aparador que era o antigo fogão de carvão de Dona Cota.
O espetáculo fica por conta do sorriso de Selma e das suas panelas brilhantes sobre o FOGÃO À CARVÃO. Perfeito para qualquer cozinha que você queira dar um toque de decoração rústica, aqui é usado como se fosse um eletrodoméstico de última geração. Útil, econômico, sustentável e não faz fumaça.
Nota *o carvão é feito de madeira descartada pela própria natureza.
 
 
                                            
                                  
 
 
A essa altura eu já estava me sentindo em casa. Lá nos fundos enxergo alguém lavando roupa e me aproximo. Ela se chama Maria. Solteira, nascida numa família de oito irmãos, tem uma filha de 7 anos. Trabalha como diarista, por R$ 40, em  somente dois dias porque não há mais oferta de serviço. 
Conversou o tempo todo comigo quase que sem me olhar, até que notei suas belas unhas e perguntei como ela conseguia mantê-las tão lindas executando aquele serviço e ela respondeu:
_É um olinho que compro lá no Santarém.
Saí de lá sem saber que “olinho” milagroso é esse. Quando pedi se podia fotografar ela não se negou.
Mulher vaidosa é assim mesmo, não resiste à fazer pose de modelo. 
 
Um mundo cheio de privações de acordo com os nossos conceitos. Pessoas que trabalham, estudam, dão duro na vida, têm família, aperreios, alegrias e tristezas. É assim que a gente aprende que ser feliz é saber administrar a vida que temos. 

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