Sem histórico de câncer de próstata na família e adepto de exames preventivos desde os 52 anos, o cirurgião dentista Ivo Guilherme Zuegue, 64, foi surpreendido há cinco anos com o diagnóstico da doença. “Nunca senti nada, foram os exames de rotina que acusaram o tumor, ainda na fase inicial”, explica.
Foram 47 sessões de radioterapia durante cinco meses, de segunda a sexta-feira, no Hospital de Câncer Erasto Gaertner, em Curitiba. Os cinco anos seguintes foram de monitoramento, com exames de seis em seis meses. “No final de abril deste ano, recebi do médico Paulo Douat, aqui de Joinville, a notícia da cura”, comemora.
Ivo defende a divulgação do assunto na mídia durante todo o ano e não somente em novembro. “O homem não gosta de fazer exames periódicos. Só vai ao médio quando está doente”, constata. No caso do câncer de próstata, o “depois” pode ser tarde demais. O dentista conta que dois pacientes do seu consultório morreram de câncer de próstata por não realizarem o exame de toque. “Meu irmão hoje está com 59 anos, sabe o que eu passei e, mesmo assim, não faz exame”, lamenta.
Roberto Ramos dos Anjos, 63, faz o exame preventivo da doença há 13 anos. Ele reconhece que o procedimento é desagradável, mas é uma garantia para a saúde do homem. A campanha Novembro Azul alerta para os riscos dessa resistência masculina ao exame, um tabu que pode adiar o diagnóstico e levar à morte.
O aumento na procura pelo exame preventivo começa a se refletir em uma queda no índice de mortes, porém o índice de prevenção ainda está bem abaixo do ideal. O câncer de próstata é a doença que mais atinge os homens depois do câncer de pele. A doença é o sexto tipo mais comum de câncer no mundo e a segunda principal causa de morte por câncer em homens, conforme o Instituto Nacional de Câncer, o Inca.
“Homens a partir dos 45 anos com histórico familiar de câncer de próstata devem redobrar a atenção e os cuidados”, explica Maria Heloisa Cavalcante, médica urologista. Segundo a especialista, estudos indicam que negros têm maior propensão a desenvolver esse tipo de tumor. O diagnóstico é feito por meio do exame clínico de toque retal e o PSA, que é uma proteína dosada no sangue.
São vários os fatores que podem determinar o câncer de próstata. Pacientes com histórico em familiares de primeiro grau têm cinco vezes mais chance de ter a doença. Além do fator genético, a obesidade, a ingestão de alimentos contaminados com agrotóxicos e exposição à radiação também podem desencadear a doença. A doutora Maria Heloisa diz que o fato de ir ao consultório e fazer exame não diminui a incidência do câncer, mas permite detectar a doença na fase em que ainda há possibilidade de cura.
Como prevenção, o homem deve cuidar do peso, praticar atividade física, ingerir alimentos orgânicos e isoflavona – que é encontrada na soja, suco de uva ou em uma taça de vinho ao dia. O consumo de grãos integrais, aspargos, brócolis, tomate (licopeno) também é indicado. “Assim como deve evitar ingerir pedaços queimados de pão, carne, aquela casquinha queimada do churrasco que virou carvão, onde há várias substancias tóxicas que são cancerígenas. Nada queimado deve entrar em nossa boca”, ressalta a médica.
Tratamento
Em fase inicial o tratamento aplicado é cirúrgico. Pode ser a cirurgia aberta, por vídeo (laparoscopia), ou cirurgia por robótica. Em Joinville ainda não há equipamentos para a cirurgia robótica, mas no Brasil já estão disponíveis 50 desses mecanismos. Essa técnica diminui o índice de sequelas cirúrgicas porque permite mais ampliação da imagem, possibilitando alcançar o ponto necessário com maior facilidade do que nas cirurgias abertas. Isso reduz as taxas de sangramento e aumenta o índice de cura.
Em casos de pacientes que não podem passar por um processo cirúrgico, há a opção de radioterapia, aplicação de hormônio terapia, ou tratamento paliativo para evitar a dor. Tudo depende do estágio da doença.
Atendimento na rede pública
Os pacientes da rede pública de saúde devem se dirigir a um Posto de Saúde para consulta com clínico geral. Se necessário, o médico fará o encaminhamento a um especialista.
Segundo a coordenadora técnica da atenção básica, Silvia Betat, a campanha Novembro Azul, em Joinville, ainda não promoveu um impacto significativo na procura pelo exame preventivo de próstata. “O homem que comparece em busca do exame é o idoso, quando já apresenta queixas de alguma dor”, explica.
A coordenadora diz ainda que o comportamento deles é muito diferente do comportamento da mulher, que busca o Posto de Saúde para exames regulares, principalmente durante o Outubro Rosa, movimento que iniciou há muito mais tempo e que até vem se transformando em evento comercial, tamanho o seu alcance.
Os postos de saúde trabalham durante todo o ano e as 52 unidades de Joinville têm autonomia para promover ações e atendimentos especiais durante as campanhas como o Novembro Azul. Decoração diferenciada e uso de camisetas próprias das campanhas são iniciativas particulares dos funcionários das unidades.
Repórter: Raquel Ramos
Matéria publicada no Primeira.Pauta
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Bom Jesus/Ielusc
Joinville, novembro de 2016 – Edição 127